Polícia Civil identificou crime após monitorar áudios entre suspeitos de integrar esquema em Araguaína. Três pessoas estão presas desde o fim de setembro. Acidente que vitimou Verônica aconteceu na Avenida Filadelfia, em Araguaína, em 2022
PM/Divulgação
No esquema de extravio de veículos do pátio da Sancar Leilões e Pátios, em Araguaína, norte do estado, além de vender os veículos ilegalmente, os suspeitos presos na operação El Lobo tinham outros ‘benefícios’. Além retirar peças de motos e carros, um deles deles cogitou a possibilidade até de ficar com a moto de uma técnica de enfermagem que morreu após ser atingida por um caminhão. A moto dela foi parar no pátio de apreensões depois do acidente.
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A TV Anhanguera teve acesso ao inquérito e aos áudios trocados entre os suspeitos, que levaram à descoberta do esquema pela polícia. Os presos no dia 27 de setembro são: Lucimar Emídio dos Santos, conhecido com ‘Magrão,’ dono de oficina apontado como principal comprador de motocicletas extraviadas; Luis Gustavo Viana de Oliveira, o ‘Prancha’, identificado pela polícia como intermediador das vendas dos veículos; e Leandro Lobo de Sousa, conhecido como ‘Loirim’, ex-gerente da Sancar.
Durante a operação El Lobo, foram cumpridos os mandados de prisão preventiva e 12 ordens de busca e apreensão. Conforme a Polícia Civil, veículos apreendidos em ocorrências de trânsito ficavam estacionados no pátio da Sancar Leilões eram retirados e revendidos ilegalmente. Depois que carros e motos ‘desapareciam’, a suspeita é que o gerente da empresa tenha feito boletins de ocorrências relatando os furtos, para despistar o crime.
A defesa de Leandro informou que só irá se manifestar perante o juiz, mas que irá colaborar com a Justiça para melhor esclarecimento dos fatos a ele imputados. O g1 e a TV Anhanguera não conseguiram contato com as defesas de Lucimar e do Luis Gustavo. A Sancar informou em nota que a empresa está à disposição das autoridades para os devidos esclarecimento. (Veja nota na íntegra no fim da reportagem.)
Operação cumpriu mandados no pátio de operação
Claudemir Macedo/TV Anhanguera
Suspeito queria ficar com moto
A moto da técnica de enfermagem Verônica de Abreu Valesan, de 39 anos, foi uma das que entrou no esquema de extravio e revenda. O veículo foi recolhido no dia 8 de outubro de 2022, quando a vítima foi atropelada por um caminhão na Avenida Filadélfia e não resistiu.
Nos áudios que a polícia interceptou, Lucimar fala para Luiz Gustavo que quer ficar com a moto da técnica e demonstra ter conhecimento do que aconteceu com ela.
“Não Gustavo, eu vou ficar com a Bizinha pra mim usar, meu irmão. Vou pagar o documento dela pra mim usar. A família dela [de Verônica] não mora aqui não, a família dela é lá de Balsas [Maranhão], só tem o ex-marido dela aqui mesmo. (sic)”, disse o dono de oficina.
Já o negociador demonstrou preocupação com a ideia de Lucimar, já que a moto tinha placa do Maranhão e não estava no nome de Verônica.
“A Bizinha 2018 não é no nome da mulher não. É no nome de uma tal de Maria de Lurdes e o nome da mulher que morreu é Verônica. Agora deu ruim, porque ninguém sabe dessa Maria de Lurdes. Se for a mãe dela deu errado”, alertou, dizendo ainda que não teria mais como devolver a moto para o pátio.
Segundo o inquérito, no dia seguinte a essa conversa, que ocorreu no dia 23 de maio e 2023, Lucimar manda fotos da moto para Luis Gustavo e fala que não vai ficar com ela porque não está no nome da mulher que morreu.
“Vou ficar com essa moto não. Eu ia ficar com ela se ela fosse no nome da mulher que morreu”, disse.
Diante da incerteza pela propriedade da moto usada por Verônica, Luiz Gustavo diz a Lucimar que ele precisa cautela para vender o veículo. O dono da oficina, então, diz que vai arrumar comprador fora do estado.
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Caso reaberto e preocupação
Em dezembro do mesmo ano, outra conversa entre os dois destacou o medo do grupo, pois a Polícia Civil teria, na época, reaberto a investigação para apura a morte de Verônica. Além disso, a irmã dela teria ido até a Sancar reaver a moto.
Em março de 2024, Leandro Lobo, gerente da empresa, registrou um boletim de ocorrência informando que a moto tinha sido furtada do pátio. Situação supostamente identificada após vistoria no local onde as motos ficam estacionadas.
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Reprodução/TV Anhanguera
A Polícia Civil acredita que a moto da vítima do atropelamento tenha sido vendida para uma pessoa de São Geraldo, no Pará, por cerca de R$ 3 mil. Desse valor, R$ 2,5 mil ficavam com Leandro e R$ 500 com Luis Gustavo, conforme padrão negociado por eles em outros veículos.
Negociações
Além do histórico dessa venda de moto extraviada, os áudios revelaram à Polícia Civil que os três suspeitos acreditavam no ‘negócio’ e até combinavam a forma e quantidade de veículos que poderiam ser retirados do pátio.
“É menino! Tem que guardar um dinheirim bom. Nós vamos enricar, enricar o Loirim ano que vem, desde que ele organize mercadoria boa (sic)”, apurou a polícia nas mensagens.
Os três suspeitos estão presos por tempo indeterminado desde que a operação foi deflagrada. Segundo as investigações, cerca de 55 veículos que estavam no pátio da empresa Sancar foram revendidos ilegalmente para a policia o prejuízo é ainda maior.
De acordo com o delegado Felipe Crivelaro, responsável pela investigação, o grupo ainda pegava peças de veículos que estavam no pátio.
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“Esses indivíduos que extraviavam os veículos para revenda, eles também aproveitavam o ensejo para tirar peças de outros veículos. Então, às vezes era um veículo que eles não tinham interesse em pegar para vender, mas alguma peça dele servia. Então eles faziam a subtração das peças”, explicou.
Conforme a Polícia Civil, assim como fez a irmã de Verônica, os verdadeiros donos dos veículos apreendidos e vendidos pelo grupo criminosos descobriam o furto do veículo quando recebiam alguma multa de trânsito. A Sancar era procurada e, como o veículo não estava mais no pátio, era alegado que houve um furto.
Segundo a polícia, o gerente investigado fazia boletins de ocorrência falsos para justificar os sumiços. Foi descoberto que a organização criminosa vendia esses veículos, em sua maioria para compradores do estado do Pará. Cada motocicleta era revendida em média por R$ 3 mil.
Veja nota da Sancar Leilões na íntegra:
SANCAR GESTÃO EMPRESARIAL E LOGÍSTICA DE VEÍCULOS LTDA, empresa concessionária dos serviços de guarda e remoção de veículos retidos por medidas administrativas de trânsito no estado do Tocantins, vem a público prestar esclarecimentos sobre a operação “El Lobo”, deflagrada pela Polícia Civil de Araguaína, na forma em que segue:
Tendo em vista que as investigações correm em segredo de justiça, a empresa Sancar pouco sabe a respeito dos desdobramentos da operação El Lobo.
Todavia, reforçamos que a empresa está inteiramente à disposição das autoridades para auxiliar em tudo aquilo que for possível, confiando no trabalho das forças policiais para que todos aqueles que de alguma forma participaram ou se beneficiaram das ações criminosas sejam devidamente punidos e paguem por todos os danos causados à empresa, bem como a toda sociedade.
Vale mais uma vez ressaltar que a empresa Sancar é a principal vítima dos crimes apontados na operação, sofrendo gravemente danos materiais, bem como manchando a imagem de uma empresa que sempre pautou pelo trabalho sério e honesto, a qual não foge da sua responsabilidade perante terceiros prejudicados.
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Fonte: G1 Tocantins